20.3.11

"E dali em diante, ninguem mais se disse cristão".

Muito bom dia, meu nome é Gregorio.... tenho 80 anos de idade e venho relatar o evento mais maravilhoso de toda a minha existência.

Quando eu ainda era criança, morava em um afastado vilarejo do interior, quase onde o mundo não era mais mundo. Minha comunidade sempre foi bastante religiosa; lembro-me que todos os domingos às 07h a rotina se repetia: todos saiam de suas casas ao escutar os sinos da igreja, quase que em fila indiana, eles entravam como um rebanho e buscavam seus assentos determinados.

Eu me fazia sempre presente, obrigado pela minha adorada e religiosa mãe a escutar todo aquele sermão em latim. Eles nem sequer entendiam, mas não importava... precisavam comer a hóstia e beber do que eles chamavam: sangue do criador.

Por décadas o ritual se repetia... apesar do meu ceticismo, aquilo também era minha vida. Mesmo após a morte da minha querida mãe na qual eu sofri bastante. Continuei, todos os domingos da minha vida a frequentar a "missa".

Mas aos 75 anos de idade, todas as forças que me restavam me levavam até minha cadeira de balanço, onde eu acendia meu cachimbo, e dali, eu enxergava a minha adorada igrejinha... Todos os domingos eu me sentava na minha cadeira de balanço e observava as pessoas metodicamente caminhando em direção à capela.

No entanto, algo de extraordinário aconteceu. Em um dia de domingo algo quebrou a rotina do ritual...

O sino tocou às 07h da manhã, todos os habitantes da cidade levantaram de suas camas, tomaram seu café da manhã , como de costume, e todos, na mesma ordem, caminharam em direção ao mesmo lugar.

Após a entrada de todos eles na igreja as portas se fechavam, e eu calmamente levava o cachimbo até minha boca e o acendia... esperava alguns segundos e dava uma tragada, me balançando com os pés: para frente e para trás.

Quando concentrei minha atenção novamente para o que ocorria no meu horizonte, eu vi uma figura estranha. Era uma homem alto, branco, de longos cabelos negros que pendiam até o seu ombro, metodicamente cortados de um jeito uniforme, vestia um terno negro como a escuridão e um sapato que de tão brilhante ofuscava a minha visão... também vestia um chapéu social...

Enquanto ele caminhava calmamente até a entrada da igreja, acendia um cigarro e sorria sozinho. Subiu os degraus! Empurrou as portas duplas com as mãos... Ao entrar na igreja, ninguém desviou o olhar do padre, que rezava des costas e em latim.

Então o homem de chapéu caminhou lentamente pelo centro, fumaça era liberada pelo seu corpo - havia um corredor de fiéis na sua direita e na sua esquerda-. Ao perceber a aproximação o padre se virou e ficara, agora , de frente para o homem de chapéu.

Ele não alterava a velocidade de sua marcha, mas agora, levava sua mão direita até um compartimento secreto dentro do bolso interno do seu paletó... de lá sacou um revolver e sem alterar a sua marcha o apontava para a testa do homem santo que estava na sua mira.

"Não temo pois o senhor é meu guia e nada de mal me acontecerá". Ele dizia

O homem de chapéu efetuou um disparo e o progetíl atravessou o peito daquele homem santo, que caiu por cima da mesa santa e espalhou sangue do criador por todo o chão. Fragmentos do rosário também se espalharam em volta do homem santo.

O homem de chapéu mantinha sua marcha enquanto o resto dos fiéis corriam desesperadamente para fora do templo: gritando e praguejando palavras demoníacas. Ele caminhou em direção ao corpo do padre estendido até o chão e agachou para escutar seu último suspiro.

O padre levantou a mão embanhada em sangue, o homem de chapéu agarrou-a e escutou o que ele tinha a dizer: - Tenho medo de morrer agora, pois eu pequei senhor... eu vou para o inferno?

O homem de chapéu cuspiu fumaça e ela alcançou a estátua do criador. Então ele disse: Não deve se preocupar, pois não existe nenhum céu ou inferno.
- Agora eu entendo- disse o padre.

Assassino de DEUS, assim agora era como conheciam o homem de chapéu. Não havia mais nada no que acreditar... Naquele momento, esse era o desejo do homem de chapéu.

"E dali em diante, ninguém mais se disse cristão".